A Moda e a Economia Solidária

A economia solidária anda na contramão do capitalismo em diversos âmbitos. Enquanto a economia capitalista prescinde do lucro como forma de continuar sobrevivendo na economia de mercado, a economia solidária se questiona a quem o excedente deve servir: para a perpetuação do empreendimento no mercado ou para a perpetuação do ser humano em seu contexto integral, preservando o caráter psicológico antes de tudo?

Uma não substitui a outra, a economia solidária está transformando o modo como as empresas pensam seus produtos, serviços, processos e, principalmente, seu posicionamento diante da sociedade em transformação.

Ao pensar a Moda com criticidade, podemos nos questionar quais impactos as grandes indústrias estão gerando em suas produções. Sua forte relação com a exploração do trabalho das pessoas que costuram e confeccionam as peças de roupas que são vendidas amplamente no mercado da “fast fashion”.

A alta lucratividade de poucos em detrimento da geração de miséria para tantos. São recorrentes as inúmeras notícias da exploração de trabalho análogo à escravidão nas confecções.

Além disso, para onde vão as centenas de milhares de peças que nenhum consumidor compra? Para onde vão as milhares de roupas descartadas diariamente? São questões que nós precisamos pensar quando pensamos a economia solidária em nossas práticas - de produção, distribuição e também de consumo.

Enquanto pequenos produtores de moda, aqui reunidos, sabemos a dificuldade que é sobreviver na selva do capitalismo, competindo com grandes confecções e marcas e todos os privilégios que eles encontram no mercado. E estamos aqui pra discutir essas dificuldades e debater como a Economia Solidária pode nos ajudar, pequenos produtores, a entender e sobreviver nessa lógica capitalista.

Para isso vamos discorrer sobre os princípios da Economia Solidária e correlacionar cada um deles com a moda durante a ciranda.

A economia solidária parte da compreensão de que todos os trabalhadores envolvidos do início ao fim do processo de produção são parte integrante daquele resultado, e portanto, precisam colher os frutos de seu trabalho de maneira equânime e justa. Por isso, vamos começar falando sobre a autogestão:

AUTOGESTÃO

A autogestão consiste no fato de que todos os envolvidos no processo de produção de qualquer empreendimento são considerados e participantes das decisões sobre o próprio fazer, ou seja, sobre seu trabalho e os resultados que desejam.

A autogestão é a base para todo empreendimento solidário, uma vez que é a partir da democratização e da geração de autonomia, que se valoriza cada um dos integrantes de uma produção.

JUSTIÇA SOCIAL

A justiça social é promovida através da valorização do trabalho coletivo e da equidade nas relações econômicas. A economia solidária busca criar espaços democráticos de decisão, nos quais todos os membros da comunidade têm voz e participam ativamente das tomadas de decisão. Dessa forma, é essencial para construir uma economia mais inclusiva e sustentável, na qual as desigualdades são reduzidas e os benefícios são compartilhados de forma mais equitativa entre todos os envolvidos.

CENTRALIDADE NO SER HUMANO

Acima dos lucros, a economia solidária visa bem estar físico e psicológico de todos os envolvidos nos processos.

EMANCIPAÇÃO

Através dos demais princípios, a economia solidária busca promover autonomia. Ser emancipado é ser livre para opinar e agir.

DEMOCRACIA

Na economia solidária, é preciso ter espaços para o debate, para as trocas entre os trabalhadores que se alinham em prol de um objetivo comum. Esses espaços podem ser reuniões, assembleias, plenárias, entre outras formas, que garantem a democratização do processo produtivo.

CUIDADO COM MEIO AMBIENTE

Preocupar-se em ter um processo produtivo, manufaturas e um produto final sustentável e que cause menos impacto possível no meio ambiente.

SOLIDARIEDADE

Não no sentido de ser uma pessoa generosa, ser solidário no sentido de ser corresponsável, com quem você trabalha, com meio ambiente e com as gerações futuras.

A economia solidária e toda sua aplicação nos mostra que a força do pequeno produtor está na coletividade. Somos pequenos, mas somos muitos, se nos unirmos, nos informarmos e praticarmos os princípios a cima citados, podemos alcançar muito mais espaços e ao mesmo tempo promover um ganho geral para todos, desde quem fabrica até quem compra.